MENSAGEM AOS PREFEITOS ELEITOS
Altair Sales Barbosa
Em seu livro Estórias
para
quem gosta de
ensinar, o educador
Rubem Alves, nos
brinda com uma
fábula do
mundo
das aves, muito
rica em todo seu
conteúdo. Assim
diz o autor:
“Tudo aconteceu numa terra
distante, no tempo em que os bichos
falavam... Os urubus, aves por natureza
bicadas, mas sem grandes
dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a
natureza, eles
haveriam de tornar grandes cantores. E para isso fundaram
escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá,
mandaram imprimir
diplomas, e fizeram competições entre si,
para ver quais deles seriam os mais
importantes e teriam a permissão
para mandar nos outros. Foi assim que eles
organizaram concursos
e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho,
instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu-titular,
a
quem chamam por Vossa Excelência.
Tudo ia bem até que a doce tranquilidade da
hierarquia dos urubus
foi estremecida e a floresta foi invadida por bandos de
pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam
serenatas com os
sabiás... Os velhos urubus entortaram o
bico e convocaram pintassilgos, sabiás
e canários para um inquérito...
– onde estão os documentos
de seus concursos? E as
pobres aves se olharam
perplexas, porque nunca
haviam imaginado que
perplexas, porque nunca
haviam imaginado que
tais coisas houvesse. Não
haviam passado por escolas
de canto porque o
haviam passado por escolas
de canto porque o
canto nascera com elas.
E nunca apresentaram um
diploma para provar que
sabiam
sabiam
cantar, mas cantavam, simplesmente...
- Não, assim não pode ser.
Cantar sem titulação devida é um desrespeito à ordem.
E os urubus, em uníssono,
expulsaram da floresta os passarinhos que
cantavam sem alvarás...
“Moral: em terra de urubu
diplomado não se ouve canto de sabiá”.
Prezados executivos
municipais eleitos em 2016, a fábula acima reflete
o que também pensavam Paulo
Freire, Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro,
posicionados entre os maiores
filósofos da educação do século XX
. Eles foram unânimes em afirmar: que o maior
analfabeto não é aquele
que não sabe ler, mas aquele que ler mas não entende o
que leu. Em
outras palavras é aquele que não entende e não enxerga os sinais
que
a realidade atual insiste em colocá-los bem à nossa frente e que bailam
diante de nós, como borboletas diante das plantas floridas.
A espiral da ignorância
analfabética, chegou ao ápice nos tempos atuais,
onde produção de
conhecimentos, produção cultural, saberes e culturas
tradicionais, de nada
valem diante da burocracia, que tal qual uma cerca
mal feita de arame farpado
tomou conta das escolas públicas,
contribuindo para a falência da educação
brasileira, cujo desempenho
dos mais letrados urubus é incapaz de gorjear uma
nota afinada e a
escola incapaz de propor uma Pedagogia da Esperança, ou para a
Esperança.
Portanto, digníssimos
prefeitos eleitos, que tanto aprenderam com
a história, Vossas Senhorias tem em
suas mãos uma chance de
ouro. Uma chance única, que embora tenha chegado
através
de circunstancias nebulosas, que
conduziram a sociedade para o
caminho em que se encontra, mas que por
outro lado, essas mesmas
circunstâncias apontam que através de uma educação
singular,
pode-se alcançar dias de glória para esta sociedade, mesmo que
difícil e ainda, que demore um pouco, mas os
alicerces de
conquistas futuras bem sucedidas podem ser lançados , através de
uma ênfase holística e sólida capaz de sustentar uma política segura
para a
educação.
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