quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

ALTAIR SALES - UM CORRENTINENSE SIM SINHÔ.

MENSAGEM AOS PREFEITOS ELEITOS



Altair Sales Barbosa

 Em seu livro Estórias 
para quem gosta de 
ensinar, o educador
 Rubem Alves, nos 
brinda com uma 
fábula do mundo 
das aves, muito 
rica em todo seu 
conteúdo. Assim 
diz o autor:
  
“Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos 
falavam... Os urubus, aves por natureza bicadas, mas sem grandes 
dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza, eles 
haveriam de tornar grandes cantores. E para isso fundaram 
escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, 
mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, 
para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão 
para mandar nos outros. Foi assim que eles organizaram concursos 
e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, 
instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu-titular, 
a quem chamam por Vossa Excelência.   


 Tudo ia bem até que a doce tranquilidade da hierarquia dos urubus 
foi estremecida e a floresta foi invadida por bandos de 
pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam 
serenatas com os sabiás... Os velhos urubus entortaram o
 bico e convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito...

 
– onde estão os documentos 
de seus concursos? E as 
pobres aves se olharam 
perplexas, porque nunca 
haviam imaginado que 
tais coisas houvesse. Não 
haviam passado por escolas
 de canto porque o
 canto nascera com elas. 
E nunca apresentaram um 
diploma para provar que
 sabiam 
cantar, mas cantavam, simplesmente...
- Não, assim não pode ser.
 Cantar sem titulação devida é um desrespeito à ordem.
E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que
 cantavam sem alvarás...
“Moral: em terra de urubu diplomado não se ouve canto de sabiá”.
Prezados executivos municipais eleitos em 2016, a fábula acima reflete

 o que também pensavam Paulo Freire, Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro,
 posicionados entre os maiores filósofos da educação do século XX
. Eles foram unânimes em afirmar: que o maior analfabeto não é aquele
 que não sabe ler, mas aquele que ler mas não entende o que leu. Em 
outras palavras é aquele que não entende e não enxerga os sinais que
 a realidade atual insiste em colocá-los bem à nossa frente e que bailam
 diante de nós, como borboletas diante das plantas floridas.


A espiral da ignorância analfabética, chegou ao ápice nos tempos atuais, 
onde produção de conhecimentos, produção cultural, saberes e culturas 
tradicionais, de nada valem diante da burocracia, que tal qual uma cerca
 mal feita de arame farpado tomou conta das escolas públicas, 
contribuindo para a falência da educação brasileira, cujo desempenho 
dos mais letrados urubus é incapaz de gorjear uma nota afinada e a 
escola incapaz de propor uma Pedagogia da Esperança, ou para a 
Esperança.


Portanto, digníssimos prefeitos eleitos, que tanto aprenderam com 
a história, Vossas Senhorias tem em suas mãos uma chance de 
ouro. Uma chance única, que embora tenha chegado através 
de circunstancias nebulosas, que  conduziram a sociedade para o 
caminho em que se encontra, mas que por outro lado, essas mesmas 
circunstâncias apontam que através de uma educação singular, 
pode-se alcançar dias de glória para esta sociedade, mesmo que   
difícil e ainda, que demore um pouco, mas os alicerces de 
conquistas futuras bem sucedidas podem ser lançados , através de
 uma ênfase holística e sólida capaz de sustentar uma política segura
 para a educação.






















Nenhum comentário: